Penso que deveria estar com alguém. Inclusive
acho que se um pouco de vontade houvesse, até mesmo estaria. Mas o que dizer
desse vício na solidão? O que dizer de um afastamento que aos poucos apaga
cheiros e gostos antes tão presentes? É terrível essa sensação de esquecer aos
poucos mas saber que uma desmemória plena jamais virá. Feito jornais amarelos
empilhados no porão, algumas imagens e manchetes chamarão nossa atenção justo
naqueles momentos pré-sono. A conclusão é uma só: é tudo tão triste que chega a
ser engraçado. Daí tantas piadas. Daí tantas palavras. Daí tantos sonhos. Por
isso só confio no humor negro. Por isso estou interessado em alguém que, em seu
último velório, teve de segurar o riso diante da babaquice ritualística
generalizada. Se esse riso foi uma espécie de auto-proteção, não sei e nem me
interessa: apesar de viver de estruturas, cansei de esquemas. O que me vale
agora é encontrar o esqueleto do vento. Mais nada. O fato em si é que na vida a
gente sempre tenta tapar um buraco com outro buraco na esperança de que um dia
ache o centro de tudo isso. Mas o que provavelmente encontraremos? Uma pá.
Então a atividade recomeçará até que o corpo desprovido de órgãos de Artaud se
torne terra. É assim que se busca a felicidade.
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