quinta-feira, 5 de abril de 2012

Jam n° 17.

Penso que deveria estar com alguém. Inclusive acho que se um pouco de vontade houvesse, até mesmo estaria. Mas o que dizer desse vício na solidão? O que dizer de um afastamento que aos poucos apaga cheiros e gostos antes tão presentes? É terrível essa sensação de esquecer aos poucos mas saber que uma desmemória plena jamais virá. Feito jornais amarelos empilhados no porão, algumas imagens e manchetes chamarão nossa atenção justo naqueles momentos pré-sono. A conclusão é uma só: é tudo tão triste que chega a ser engraçado. Daí tantas piadas. Daí tantas palavras. Daí tantos sonhos. Por isso só confio no humor negro. Por isso estou interessado em alguém que, em seu último velório, teve de segurar o riso diante da babaquice ritualística generalizada. Se esse riso foi uma espécie de auto-proteção, não sei e nem me interessa: apesar de viver de estruturas, cansei de esquemas. O que me vale agora é encontrar o esqueleto do vento. Mais nada. O fato em si é que na vida a gente sempre tenta tapar um buraco com outro buraco na esperança de que um dia ache o centro de tudo isso. Mas o que provavelmente encontraremos? Uma pá. Então a atividade recomeçará até que o corpo desprovido de órgãos de Artaud se torne terra. É assim que se busca a felicidade. 

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