quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Desintitulado nº 4.

A democracia é o mais belo dos sistemas políticos. Por isso é também o mais sacana. Baseia-se em uma pretensão de objetividade completamente falsa. A política, por outro lado, serve para deixar o povo alarmado, clamando por segurança. É o leão-de-chácara do bordel. Isso prova que é impossível ser democrata sendo sinceramente democrata.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Desintitulado nº 3.

Todo extremismo é desprovido de neurônios, mas traz consigo uma verdade incontestável que certamente é invisível para a maioria. O problema é que no Brasil não existe esquerda, direita ou centro. A posição preferida de todos lembra um frango assado besuntado em vaselina.

sábado, 25 de setembro de 2010

Desintitulado nº 2.

O brasileiro é uma prostituta histórica. Começou sua senda de clientela caloteira com o pessoal da Europa vindo pra cá e fazendo filhos nas boas selvagens de Rousseau. Desses filhos nasceu o protótipo do cidadão brasileiro: passivo, alegre e sempre disposto a passar a perna em quem aparecer pela frente (detentor daquele sorriso desdentado que pode até causar alguma piedade ou admiração ao primeiro olhar, mas que, com um pouquinho mais de observação, causa a simples vontade de estar distante dos seus braços, seja pelo odor moral ou pela inexistência de desodorante nas axilas).

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Desintitulado nº 1.

Existe uma diferença básica entre a ditadura e a democracia. Na primeira você não escolhe o parceiro. Mas sabe que ele pode chamar você para a cama no horário que bem entender, utilizando inclusive uns apetrechos que ganhou da CIA. Na segunda você não sabe quem é seu parceiro. As coisas acontecem tão às claras que ninguém sabe se é cego ou carrega uma fluorescente pendurada na testa. Por isso a democracia é essencialmente bissexual, apesar de alguns dizerem que sua principal característica é a dor lombar após os pronunciamentos oficiais na televisão. Ficar de quatro cansa.

sábado, 18 de setembro de 2010

EM RITMO DE FESTA!

Sou um entusiasta da política. Brigo com quem disser que todos os políticos são bandidos e que ninguém presta. Sou capaz de argumentar por horas não pra defender um partido ou coisa parecida, mas pra dizer que parlamentarismo seria melhor opção política pro Brasil que presidencialismo, por exemplo. Mas diante das coisas que tenho visto no horário eleitoral, ao qual tenho me dado ao trabalho de assistir quando posso, chego apenas a uma conclusão: estamos mal de candidatos.

Se fosse só pra deputado estadual ou federal, o problema não seria grande. Além do mais, grande parte deles chega a ser mais engraçado que qualquer coisa. Tem um candidato a senador que inclusive, querendo dar uma de Fred da novela das oito, chega a defender o fim do Senado. O que até é legal, convenhamos. Mas acontece que nossa maleza vai desses deputáveis aos presidenciáveis. A coisa está feia. Tão feia que me lembra aquele poema do Fernando Pessoa: “tinto ou branco, é tudo igual: é para vomitar”.

Mas calma lá. A gente é brasileiro. Está acostumado a rir do próprio fato de ser brasileiro. A piada é nossa existência. Não fosse assim, já seríamos uma Finlândia em suicídios. Existem alguns que chegam a dizer que isso faz com que compreendamos melhor quem somos. E apesar de eu achar que riso demais é desespero, não custa nada, nem que seja pra relaxar ou talvez entender melhor nossas principais opções presidenciáveis, perceber algumas coisas. Quais? Vamos lá.

Vejamos o Serra. Quem já assistiu aos Simpsons, sabe exatamente do que estou falando. Não que ele seja um muquirana com olhos vidrados que nem o Mr. Burnes. Mas que ele parece o Mr. Burnes depois da quimioterapia, parece. Poderia até ganhar uma grana fazendo umas pontas em festas infantis. Ou quem sabe no Dia das Bruxas, onde as orelhas do Nosferatu daquele filme do Murnau de 1922 lhe cairiam perfeitamente. É aterrorizante. Haja hipocondria pra uma carcaça daquelas. Talvez seja a razão dos genéricos e da extinção dos tucanos vaselinados.

Já a Dilma é uma criatura mais assustadora: parece Chuck, o Boneco Assassino. O fato do Chuck ser vendido em uma caixinha limpinha com ares de bom moço que fará tudo de bom pela criançada, é mera coincidência. Mas que o Chuck, com aquelas bochechas reluzentes de botox, é a cara da Dilma, é sim. Ou seria ela uma espécie de Cauby Peixoto pós-guerrilheiro, ser híbrido que trocou os gorros do Che pelas bolsas da Prada? Acho que a resposta é questão de gosto, nem que seja pela curra.

A Marina, coitada, está mais pra uma Na'vi desnutrida do Avatar. Até seus olhos são meio pra cima! Quem quiser maliciar com ela, capaz de dizer que é de tanto comer alface. Afinal, ela é dos verdes. Mas se a questão for magreza, melhor mesmo seria dar pra Marina o título de mãe da Noiva Cadáver, aquela mocinha do desenho do Tim Burton. Acredito que nenhuma descrição diga mais sobre tudo o que ela representa. Vender comodities de carbono e falar que isso é pra defender a natureza, é o mesmo que sustentar que o ar seria “mais respirável” se feito unicamente de nicotina e alcatrão.

E o Plínio? Complicado. Ele certamente parece alguém que deve ter sido há sabe lá quantas décadas. Quem sabe um César do Império Romano. Se o Paulo Coelho estiver certo quanto à existência dos duendes, o Plínio é um duende velho. Ou um Smurf revoltado. Mas diante das suas alfinetadas estético-discursivas nos debates, ele está mais pro Cérebro do Pinky, ranzinza e verborrágico noite após noite. Jamais irá dominar o mundo. Muito menos os latifúndios hereditários. A chave não é Chávez.

Ficou claro o que disse? Se não, basta perguntar pro Google. É a Biblioteca de Babel borgiana ao alcance da preguiça. Mas se persistem dúvidas quanto ao nosso estado de maleza política, elas também podem ser sanadas com a simples conclusão de que estamos entre eleger pra presidente um vampiro que tem por mestre um sapo sociólogo comedor de celulares, ou uma boneca andrógina que tem por guru uma cruza do Mestre Yoda com um hipotético Qcorpo Santo civilizado, calmo pela cachaça de alguns comparsas de cama e mesa.

Mas como diz o Humbertão naquela música que eu tocava quando tinha dezesseis: “Hey, mãe! Já não esquento a cabeça!”. Simplesmente deixo estar. Em alguns lances, confesso que faço o possível pra que um chute daqueles faça a bola furar em algum palanque. Daí o jogo pararia e as regras mudariam. Mas é só sonho: haveria um juiz pra me atazanar a vida. Por essas e outras que concordo com quem diz que rir faz com que compreendamos melhor quem somos. Acabei de perceber, por exemplo, que como toda gente passei a vida esperando os aviõezinhos do Silvio Santos. Em ritmo de festa! Sou de uma raça que tem a barriga cheia de fome pelo mundo que o mundo não nos deu porque não tivemos coragem de insistir. O que nos faltou? Ter mais que colhões: ter peito.

Mas é melhor que nada isso que está aí, ainda que meus três-quatro leitores sejam gremistas como eu. “Valha-me Deus!”, como diria um velho amigo de Portugal.