sexta-feira, 8 de abril de 2011

Desintitulado n° 23.

O vazio não é o nada. O vazio um dia esteve. O nada jamais estará. O fim é o começo da lembrança. Só a finitude permite a memória. Por mais que ela oprima, revolvendo tempos idos em presentes fatigados pela areia que passou, é a condição do criar. E isso, junto com os dias que nunca vivemos, é o que importa, já que a verdadeira morte, como disse o Pessoa, é o momento não vivido. Por conta dele, sorrimos. O “ficar bem” passa a ser um sol amanhecido, entrando lento e aquoso pelas frestas da veneziana, atordoado pelo prazer da alma ser só carne. O amor é como a ferrugem: apenas rói o que certa noite queimou. O amor só existe no passado. Somente a paixão é presente.

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