segunda-feira, 18 de abril de 2011

DEGRADAÇÃO, MEIO AMBIENTE E OBSOLESCÊNCIA.

Diante da comoção nacional com os assassinatos ocorridos no Rio de Janeiro, algumas imagens passaram despercebidas pela imprensa. Exemplo disso são os retratos de moradores das Filipinas praticamente submersos em lixo, petróleo e água na busca do que restara das suas casas destruídas por um incêndio que deixou mais de três mil desabrigados no dia sete. O impacto imediato causado por essas cenas remete a uma visão clara acerca de dois componentes básicos do sistema socioeconômico atual: a degradação ambiental e a obsolescência programada.

Apesar de alguns setores da sociedade defenderem que fenômenos como o aquecimento global consistem em manifestações naturais e cíclicas do planeta, dados provindos de estudos sobre o degelo das calotas polares comprovam o contrário. O fato da poluição das águas ser uma constante que ameaça o abastecimento global nas próximas décadas, igualmente endossa a tese de que a degradação ambiental é que está promovendo tantas e tamanhas mudanças no panorama mundial, afetando principalmente populações de baixa renda.

Fala-se que políticas governamentais conjunturais estão sendo propostas para a resolução desses problemas. Mas quando se percebe que se por um lado o Governo Dilma defende a produção maior do biodiesel e por outro canta aos quatro ventos a riqueza representada pelo pré-sal, nota-se que essas políticas estão mais no plano formal que material, desfazendo-se em discursos que agradam aos ouvidos mas de modo algum deixam o papel e se transformam em realidades efetivas.

As próprias empresas, supostamente comprometidas com a responsabilidade social, utilizam-se do artifício ecológico em campanhas de marketing sem fim. Mas o nítido é que a responsabilidade social corporativa vê os problemas pelo retrovisor. Isto é: quando um desastre ambiental tal qual o ocorrido no Golfo do México acontece, é contra, mas quando nenhum efeito nefasto da degradação do meio ambiente pode ser percebido de imediato, o que há é um cruzar de braços afeito a preocupações artificiais.

O que potencializa esse cenário é o consumismo desenfreado que se embrenha por todos os cantos da vida contemporânea. Nenhum produto é feito para durar porque simplesmente não interessa que sua durabilidade seja alta. É necessário que o ciclo de reposição e inovação seja perpétuo, mesmo que a diferença entre um celular de hoje e de seis meses atrás seja mínima. Uma sensação do fugaz e do provisório perpassa tudo o que é produzido pela indústria, algo necessário para que ela mesma consiga alicerçar seu crescimento nesse sistema.

Em uma época onde bem se podem suprir todas as necessidades dos habitantes do planeta, o que não é feito unicamente pela precária distribuição de renda global, existências sustentadas nesse paradigma tendem inevitavelmente ao fracasso. O individualismo sem limites, a busca pela satisfação de um prazer que torna as pessoas meros objetos para o gozo, constroem uma sociedade doente, cujos sintomas são facilmente percebidos em ocasionais massacres que acontecem pelas escolas do mundo ou por imagens de seres humanos imersos em dejetos industriais, como no incêndio nas Filipinas.

Alternativas a esse modelo socioeconômico existem. A degradação ambiental e a obsolescência programada promovidas pela economia atual podem ser superadas. Mas a possibilidade de mudança passa pela necessidade de uma reprogramação social de grande porte, o que certamente não ocorrerá em um curto espaço de tempo. O que fica disso é somente uma antevisão do desgosto que os seres humanos do futuro terão em relação a nós. Certamente perguntarão: como vocês não fizeram nada se sabiam dos problemas e sabiam também como resolvê-los? Quietos, olharemos para o lado e veremos nossas histórias empilhadas em lixões, descartáveis como os prazeres que compuseram o que chamávamos de vida e principalmente de sucesso.

2 comentários:

  1. Me parece que as políticas de desenvolvimento sustentável sempre são vistas como algo a ser implementadas de forma secundárias, alternativas (e não substitutivas) as atuais. Mesmo por aqueles que as tem por base de uma suposta plataforma política, como a Marina, por exemplo. Sobre o consumismo e seus efeitos foste preciso. É o velho hábito de medir o pau pela grossura da carteira. Mas não vou me estender. O assunto é complexo demais pra ser tratado num simples comentário. Gostei do texto!
    Hasta!

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  2. Gosto de ler teus textos pois estes acabam sendo refletidos em pequenos comentários em sala de aula. Sei que o meu comentário sobre o assunto não chegaria perto do modelo de escrita que tens, por isso e por enquanto, prefiro deixar apenas esta pequena observação.

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