sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Jam nº 11.

É um tipo diferente de gostar.

Não é um gostar extravasado como aquele de antigamente, dado ao tino de Almodóvar e ao sabor das pimentas.

Não é um gostar prenhe de impossibilidades, renúncias, demagogias do desejo que persistem na conta de azulejos e lâmpadas que iluminam cada sala.

É um gostar sorrateiro, gostar de sussurro, gostar de amêndoa e linha que escorre sem quaisquer previsões quanto a um passado ou um futuro.

Gostar que sabe do seu fim, seus contornos de gosto, suas lascívias de carne e suas extremadas vozes que jamais poderão definir as venezianas do dia.

Se for um gostar mentiroso, desses que confundem “saber” com “sabor”, o único problema é a duração e a idade, sendo que mesmo isso parece sem sentido diante do gostar que sente.

A cabeça febril, têmporas quentes, cabelos quase suados pelo estranho frio de dezembro, sabe de tudo isso.

Pés com meias, mãos ressecadas, camiseta antiga abraçando o tórax em tecido de festas passadas.

Violão ao lado, capa Di Giorgio (marca também), garrafa d’água no chão e uma vontade de estar com alguém – com o alguém para o qual aponta esse gostar.

Mas se sonhos sonhos são, sonos poderão?

Por isso dorme: a saudade inspira prelúdios.

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