terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Desintitulado nº 26.

Os relógios não medem o tempo. Um relógio mede outro relógio. O tempo não pode ser destrinchado em um laboratório. O tempo é como uma paisagem que se estende às nossas costas e a nossa frente. Por ele andamos, pedaço a pedaço. Mesmo assim, isso é falar de espaço. Não falar de tempo. O tempo é aquela sensação que temos quando percebemos que ontem éramos alguém que hoje não reconhecemos no espelho. O tempo está nas células mortas. O tempo está nos mortos. Mas ainda assim, nenhum diz o que é o tempo. Somos aqueles nos quais estamos nos transformando. Somos devir. Projeção. Projeto que movimenta o ar, o fogo. Mas não movimenta a si mesmo porque em si é o próprio movimento. Essa é a natureza do tempo: movimento. Coisas finitas, padrões infinitos. Caixa fechada a quem está no tempo e aberta a quem não está. Mas quem não está no tempo? Somente deuses não tem objetivos: porque não tem tempo. O tempo dos deuses é o devir. Mas um devir cuja impossibilidade de projetos é a única condição. Como a impossibilidade de projetos contraria o próprio fato das coisas serem finitas e dos padrões serem infinitos, isso quer dizer que os deuses são o próprio tempo. Mas não reconhecemos isso. Precisamos de personas, precisamos de máscaras. Então corporificamos o tempo. Daí relógios. Daí células mortas, altares. Mas um relógio mede outro relógio e uma célula morta somente pode ser identificada como tal quando em contato com uma célula viva. Tudo é comparação. Cria-se uma ópera do tempo. Cria-se o verniz das horas. Mas subterrânea, a realidade é indiferente. É, não está.

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