Meu pai
estava certo quando me dizia na adolescência: "Na vida, tudo é questão de
fase, Eduardo. Acalme-se". Problema é que alguns sentires e algumas
pessoas ultrapassam as fases e fincam morada rediviva momento a momento no seu
peito. Mas será que é um problema ou apenas um atestado de que você sentiu e
sente algo verdadeiro que, embora jamais se apague, sempre faz bem? O fato em
si é que cada vez mais descubro que meu insight dos dezesseis anos está
totalmente correto. Qual insight? O seguinte: a existência apenas detém um
sentido quando ancorada no binômio amor e arte. Não é reducionismo: isso
realmente resume tudo. Único “porém” de falar isso às cinco e meia da manhã,
está para uma gripe que me afeta, uma tosse que me acorda e uma febre que me
faz suar. Mas enquanto eu estiver aqui, não há de ser nada, já que cada arfar
de pulmões traz a possibilidade de que um dia seja melhor que o outro. Março,
enfim, não se tornou o "mês do ponto final", como eu pensava. Ao
contrário, tornou-se o "mês do ponto e vírgula". Não se fez um mês de
fim de página, mas um mês de pausa breve. Afinal, são dos desesperos prováveis
que surgem os amores possíveis. De resto, o caminho se faz ao caminhar: ainda
que seja jargão, somos sempre nós que posicionamos placa a placa o sentido dos
nossos rumos. E ao buscar mais um pouco de sono e melhoras, concluo: sinto-me
tranqüilo pelo que fiz, pois jamais gostei das lembranças de arrependimento.
Todos sabem: mais vale se estrepar tentando do que investir na calmaria de um
domingo de futebol na TV. Quando o passado não machuca, o presente é um afago e
o futuro certamente será ótimo, pouco se tem a lamentar. Resta agora apenas
desvendar o sentido de um sorriso e de certas pálpebras de ontem, porque apesar
de nem todas as palavras serem verídicas, todas as letras são sentires.
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