sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Jam n° 8 (ou "Para um fim").

O segredo do universo está na escova de dentes que uma criança gira com o polegar e o indicador. Solidão é mover o imã do lado de fora do aquário. Pendurado na parede do quarto, o tiro ao alvo espera os dardos de todas expectativas. Mas a revistaria deve ser aberta às oito da manhã e não existe espaço para preocupações. Ela chegará e dirá que nada aconteceu. Retrucar é como engolir cerveja quente pelo sabor da urina. Ser passivo é a regra. Aquecer angústias em um espelho cilíndrico é o presente. Um vento na calçada falará dos cabelos de trinta anos. Cigarro após cigarro, a hora do ônibus é chegada. O motor range na frente dos tijolos expostos. A sorte é um sussurro ao violão para os cães da vizinhança. O temporal é o açúcar mastigado no amargo da língua. Mas tudo vale a pena com uma motocicleta. Quais serão os cogumelos do cardápio? Simulações de vídeo-game ou sinuca nos campos? Orvalho escorre pelas árvores que dormem. O retrovisor, os copos e o enduro do restaurante são o primeiro anúncio de Vegas. Deixar a menina quebrar o balanço é provar a Lei de Newton. Umas moedas a mais não farão diferença. Nas fotos sob o cinzeiro, a aquarela da espera. Pac man come pedestres na enfermaria. Legal é se apresentar e fazer amigos. Se você conheceu um campeão, eu também posso ser um campeão, ainda que beijos não existissem na minha cama. Em círculos é muito mais fácil cortar os cabelos com um desconhecido. Esse é o ritual de passagem que ao entardecer tem seus últimos retoques. Bom mesmo é o folk do sul e os risos do pessoal no bar. True love. True time. Mas nada certo na fogueira das barracas. A poesia é um capacete de astronauta. É Jesus nas nuvens antes de ser religioso. Mas quando acorda, tudo se desfez. As cabines telefônicas não ouvem guitarras do outro lado. Em cada intervalo de árvores, o coração de um cata-vento para pular corda. Escuta fantasmas de insetos que procuram galhos afogados na barragem? Não, só entendo de clareiras no outono e violinos venezianos, agudos como uma folha seca aos olhos de quem recém descobriu o mundo nos seus desejos de fuga. A corredeira é a voz da fonte por debaixo dos pés. Uma pulsação de inverno está no porvir de cada passo. As escoteiras formam monolitos nos solstícios das suas mochilas. E um lugar sempre há para quem está na estrada. A concentração é uma garrafa esquecida pelo que não pode contar. O anel, aquele que estava no dedo da mulher, foi arrancado pelo marido traído. Brincar de Coelhinha da Playboy nunca foi algo suportável. Peixes tropicais, casa nova, loja nova. Nada adiantou. Mesmo que a vida mude no ronco do asfalto e um pré-jazz queira tomar corpo nas curvas, na encruzilhada sempre existe uma placa e um caminhão que fará você mexer as pernas. O jogo se aproxima, descobridor. A chuva desenha estalactites poça por poça. Amanhece, vêm a carona e anoitece. Estadual em frente, o rumo geometriza as trocas dentre reclames de falta de dinheiro. Multas, velocidade, adolescente desolada e nenhuma vontade de saber do zoológico. Ela é alérgica a leões, não gosta de selvas e muito menos de estátuas de dinossauros. Entra uma gaita de boca ao redor dos silos do interior. Uma montanha russa estampa ases de copa pelas portas. Tudo estará perfeito se houverem quartos baratos e sinetas enferrujadas na recepção. Os pássaros são a entrada gregoriana para a esposa e a filha do dono do carro. Mas ele só quer fugir para uma câmera de mão que note cada sobrancelha que levanta e cada carro-choque no parque de diversões. Os cavalos de madeira, o sorvete de baunilha e um abraço ao fim. Alterna o foco e mudam as cores. Vou atrás dos meus amigos quando as luzes acenderem e tudo for imagem no telão. Melhor o urso como companheiro para o leite, já que gordos balançam na danceteria. O resumo é um píer abandonado que precede a competição. Mas o peito dói como nicotina na garganta. Os dardos estão aqui por mera compaixão inglesa. Viciados vêm e vão sem saber que você existe. Encontra ela, beija seus cabelos castanhos e conversa um pouco. Se nada der certo, acaba assim, defronte ao mar, com quaisquer palavras que digam do cansaço dela e seu. Nada teve um por quê. O travesseiro fundo de ausência foi a encosta de toda lágrima. Mas perdoa. Você olhava o mundo pela vitrine e pensava que ela também queria isso. Dê as chaves e descubra o que existe depois da esquina sem rancor ou mágoa, apenas com a vontade de conhecer aquilo que só havia nas revistas. Ela será feliz e você também com uma motocicleta nova que só agora você viu que é uma lambreta. Adiante, apenas a liberdade da estrada. E o único segredo é aceitar um piano ao fundo e um sorriso no rosto. A escova de dentes queimou, o alvo foi esquecido e o aquário é passado. Tudo está na imprecisão de ser e dormir às oito da manhã. Agora é seguir.

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