quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Jam n° 2.

Destruir. Destituir. Desalocar. Tirar o centro do mundo. Fazer com que aquele sol, aquele sal, aquele gosto de água descolorida, tenha sua voz no céu enquanto mar, enquanto suspensão, areia que entra pelas narinas e despovoa as coisas da sua opacidade, do seu frêmito de não-sentido, legando luzes, danças, balés de cores rubras, gargânteas, afinadas com o som agudo dos gritos da África, da explosão das metástases, da fome em todo sexo, em toda roda, em tudo aquilo que faz a cidade respirar, que chupa água da cafeteira e vomita suco de planta na minha xícara, trazendo o torrão branco que alguma mão de Gullar colheu sem que jamais saiba da sua procedência, do fogo que lhe tocou, dos olhos ardidos pela fumaça, dos galos que ouviu enquanto eu ia dormir e ela, em sua condição de mão, acordava para as lâminas e para o salário que mal durava cinco dias. Altruísmo. Vergonha. Imensidão. Vazio vazio. O sonho tem sua própria métrica. O sonho é o único direito justo a ser defendido, disse Glauber. Longe dele há a mansidão da razão ou o revolutear da desrazão, da insanidade que move as massas em alguma direção incerta, cabildo e redução.

2 comentários:

  1. Putz! Muito bom, Eduardo! Fodido mesmo!

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  2. E assim o o mundo segue, nós o arrastamos concosco enquanto caminhamos... Enquanto nós formos na frente, o mundo sempre será lugar de injustiças, pobrezas e violências. Legal cara, ficou muito bom!

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