domingo, 23 de setembro de 2012

UM CANTO TODO FEITO DE MUDANÇAS.

Semana Farroupilha. Rio Grande do Sul imerso em comemorações. Emoções afloradas, bailes aqui e acolá, seres com pilchas cheirando à naftalina e escolas levando alunos para cafés campeiros nos CTGs. Acho tudo isso muito bonito. Condiz com certa unidade cultural que habita a terra sulina. Mas ao mesmo tempo, acho indignas quaisquer atitudes tradicionalistas puristas. Isto é: sujeito acha que apenas uma e só uma vertente cultural detém valor. Trata-se de uma postura totalmente arcaica, preconceituosa e nada afeita aos tempos atuais. Causa, inclusive, uma opressão moral e atitudinal exposta claramente pelo conservadorismo gaúcho que se soma a determinado bairrismo caolho e sem razão que carregamos.

Fato é, porém, que já tentei enveredar pela cena musical como compositor nativista. Escrevi algumas letras e compus canções, sempre em parceria com meu amigo Antonio Fontoura. Pensando sobre isso, é que hoje decidi publicizar um escrito que me vazou há tempos e que ainda está parcamente musicado como uma milonga. Em suas linhas, expressei minha convicção de que inexistem parâmetros certos ou errados em se tratando de manifestações culturais. Também evidenciei que não me cabe, como homem da cidade, cantar coisas de uma realidade campesina que desconheço totalmente. Por fim, busquei uma vertente poética afeita à necessidade de união, fraternidade e convivência pacífica entre diferentes, tendo em conta nossa inevitável solidão cósmica e a perspectiva certa e inafastável da nossa finitude. Penso que apenas assim poderemos atingir um novo nível de desenvolvimento humano, desapegado de localismos que nada nos dizem afora seu teor anacrônico – mas conectado com uma noção planetária envolta em um senso de unidade global.

Por esses motivos, consistindo em uma modesta e descompromissada homenagem à Semana Farroupilha, arraigada ao significado pessoal que visualizo no dia 20 de setembro, segue “Um canto todo feito de mudanças”, letra que escrevi com base no ideário que resumidamente expus acima, o qual traz como única vereda um sentido profundo de liberdade e companheirismo existencial.

Não quero mais cantar essa saudade / Das coisas que não pude conhecer
Não quero mais cantar essas paisagens / Que só a imaginação pôde trazer
Não quero mais cantar só por um chão / Se não há uma bandeira que nos une
Nem quero mais cantar o coração / Que faz a minha vida mas me pune
Não canto mais por algo ou por alguém / Porque sei da fraqueza da minha voz
Só canto porque vejo bem além / Alguma ideia que une a todos nós

Por isso que meu canto é de futuros / É feito de amanhãs e esperanças
Por isso que meu canto é pela união / Da terra e do homem pra mudanças
Distantes de passados ou presentes / Que cortam essa noite do agora
Mas relampejam antes do poente / As mãos que não cansaram da demora

Sabendo do meu canto sei que devo / Cantar não só respeito ou palavras
Que morrem sem saber que a cada rima / Se tornam nada mais que umas escravas
Meu canto não pede pra ser medido / Por aqueles que julgam a canção
Porque todo seu corpo é tecido / Com notas livres de toda opressão
Meu canto se quer som não só da voz / Que pra agradar só canta o que convém
Porque meu canto vai bem mais além / De toda solidão que há em nós

Por isso que meu canto é de futuros / É feito de amanhãs e esperanças
Por isso que meu canto é pela união / Da terra e do homem pra mudanças
Distantes de passados ou presentes / Que cortam essa noite do agora
Mas relampejam antes do poente / As mãos que não cansaram da demora

Por uma voz que não seja só uma / Mas seja a voz de todas as esperanças
Da terra e do homem pela união / De um canto todo feito de mudanças

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