sábado, 25 de fevereiro de 2012

Jam nº 14 (ou “Petições para o Universo).


Uma pessoa importante (para o ser humano que aqui fala) disse que Petições para o Universo existem e funcionam. De início, não entendi ou cri, vez que o ceticismo é a linha mestra das minhas concepções de vida e de mundo. Mas resolvi tentar.

Imaginei vários familiares, amigos e amigas de ontem e de hoje, namoradas que nunca mais vi, assinando a petição. Delineei os fatos, os fundamentos e os pedidos. Busquei um arrazoado nada jurídico, mas pleno do pulsar da existência e de um querer profundo.

Protocolei no Cartório do Cosmo via imaginação consciente. A petição foi recebida e devidamente encaminhada ao juízo competente. Para não deixar margens de erro, repeti o processo três vezes. Poderia ocorrer algum equívoco cartorário e o aceite inexistir, afinal.

O resultado? Desejos começaram a se tornar metas e metas começaram a se tornar rumos. A engrenagem das coisas, visíveis e invisíveis, movimentou-se. Não sei de despachos ou notas de expediente provenientes dessa lide. Nem sei se se trata de um litígio, visto não haver parte contrária.

O que sei e vejo de forma clara, é que quando começamos a dançar no ringue desse boxe dos dias, movidos por ímpetos de mudança, horizontes novos se abrem, dependendo nossos passos unicamente da persistência na direção de outros paradigmas. Jabes ou cruzados de esquerda podem até buscar nosso rosto. Se acertarem, porém, o sangue terá um gosto doce na boca.

Talvez esses movimentos não sejam certos. Talvez a "vontade de mudança" seja pura "ânsia de incerteza". Mas o fato, real e incontestável, é que somos capazes de vencer qualquer campeonato pelos estádios da vida, sejam eles em algum lugar como a futura Arena Gremista ou em um simples campo de várzea. Não interessa o cenário: interessa o protagonista.  

Podemos e devemos, movidos por coisas, pessoas ou idéias que sentimos férteis e fortes no âmago do coração e na parte detrás da cabeça, correr atrás da felicidade. Precisamos disso. Quando os ares de um lugar ou as respirações de algumas conversas parecem não mais consentir com nossos sentires, o final da insônia pede outros quartos. Não adianta persistir no que é cômodo – seria sintoma de fraqueza e sinal de tristes horas. O que faz sentido é esquecer que existem chaves e simplesmente abrir todas as portas.

Do futuro, sei apenas a incerteza. Do amanhã, só me cabe o amanhecer. Do hoje, tenho a boca cheirando à café. Do agora, os dedos dançando pelas trilhas das teclas. Mas do tempo, esse sim, sinto o caráter implacável, as garras da destruição de tudo, do esmorecer da pele, voando em meus cabelos e ressentindo mortal, sempre mortal, a coragem e a liberdade que me escorrem veia por veia nesse exato instante.

A saúde, o amor, o trabalho, o bem-estar de uma casa morna, a palidez de um copo d’água gelada: tudo flui em raios da nossa presença para transformar em chuva o que era estiagem. Apontados para o porvir, esses jatos de querer quem sabe possam ser comparados à supernovas, estrelas próximas da morte que espalham no espaço a matéria da qual somos compostos quando enfim explodem. Não há destruição: o que existe é superação de muros que em algum momento, completamente bobos, julgamos intransponíveis.

Mas qual foi o juízo que recebeu minha petição? Não será a própria petição um atestado de falta de juízo? E se o Cartório do Cosmo esqueceu o encaminhamento? As próximas etapas dirão, já que sei da inexistência de um processo esquematizado e fechado quando se trata do Universo. Pode até haver recurso, tribunal superior ou corte interestelar, mas desde que os motivos de pedir sejam condignos com os pedidos, certamente o sucesso estará estampado na próxima página.

Resta então prosseguir. Resta agradecer à pessoa importante (aquela do início do texto) e falar para ela o quanto ela é essencial para mim, despertando-me para o novo desde o primeiro momento em que toquei seu rosto e sua boca. Mais que isso, falar o quanto “justiça” e “injustiça” são conceitos tolos próximos da dignidade e dos sorrisos do porvir presentes nas Petições para o Universo.   

Já fez a sua? Se não, só mais um recado: nessas instâncias cósmicas, provavelmente somos advogados, promotores, autores, réus e juízes ao mesmo tempo e no mesmo espaço. Não há indício de poder quando todo poder brota das nossas mãos, pensamentos e compassos do coração.

Afinal, todos sabem ou deveriam saber: somos aqueles que desejamos ser – e as Petições para o Universo, provas da força do nosso querer.