sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

INFORMAÇÃO: Twitter e Facebook.

Aos eventuais leitores desse blog, informo que também posso ser encontrado no Twitter e no Facebook.


No Twitter, minha conta é @eduardofrizzo.


No Facebook, caso queiram, procurem meu nome - isto é: Eduardo Matzembacher Frizzo.


(Também tenho uma conta em estado vegetativo no Orkut - codinome: Irineu Funes.)


Digo isso porque muitos fragmentos que vez em quando ganham algum corpo no NÃO É CÉU., nascem justamente dessas ferramentas que mencionei acima. 

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Jam n° 12.

Espelho escondido é reflexão:
na parede, versão perversa da identidade –

ou será sua negação?,
sua mordaça de cobre calcada no frontispício de qualquer dúvida?

Do rosto, sabe-se apenas a falta
entre a pele e a letra:
mudez que desenha o mundo na costura da boca

(jamais o cerzir das águas
ou o farejar dos ventos –
calcário,
flúor e branquidão fingida em cada seta:

gole de extremo,

tinta de pétala). 

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Jam nº 11.

É um tipo diferente de gostar.

Não é um gostar extravasado como aquele de antigamente, dado ao tino de Almodóvar e ao sabor das pimentas.

Não é um gostar prenhe de impossibilidades, renúncias, demagogias do desejo que persistem na conta de azulejos e lâmpadas que iluminam cada sala.

É um gostar sorrateiro, gostar de sussurro, gostar de amêndoa e linha que escorre sem quaisquer previsões quanto a um passado ou um futuro.

Gostar que sabe do seu fim, seus contornos de gosto, suas lascívias de carne e suas extremadas vozes que jamais poderão definir as venezianas do dia.

Se for um gostar mentiroso, desses que confundem “saber” com “sabor”, o único problema é a duração e a idade, sendo que mesmo isso parece sem sentido diante do gostar que sente.

A cabeça febril, têmporas quentes, cabelos quase suados pelo estranho frio de dezembro, sabe de tudo isso.

Pés com meias, mãos ressecadas, camiseta antiga abraçando o tórax em tecido de festas passadas.

Violão ao lado, capa Di Giorgio (marca também), garrafa d’água no chão e uma vontade de estar com alguém – com o alguém para o qual aponta esse gostar.

Mas se sonhos sonhos são, sonos poderão?

Por isso dorme: a saudade inspira prelúdios.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Desintitulado nº 27.

A estrutura de uma cultura evidencia sua linguagem articuladora. A estrutura da razão evidencia o resultado. O mensageiro vem sempre com a mensagem, disse Heidegger. A resposta está implícita na pergunta. Mas é preciso o entendimento das fronteiras da pergunta para que a resposta seja sabida. Tudo é questão de campo, paisagem, referencial. Espaço que se preenche com tempo. Espaço que é enquanto tempo. Mesmo que o tempo seja vivido, sentido – jamais podendo ser submetido a qualquer necropsia. E seria válido falar em “necropsia” (como se o tempo fosse uma entidade morta)? Não sei, mas o fato é que o tempo é a única propriedade do Universo que não morre, sendo também a única que possibilita o que comumente se chama “morte”: via comparação. Sabe-se da morte na comparação com a vida. Sabe-se da hora de Brasília em comparação com a hora de Tóquio. Semelhanças e dessemelhanças. Vetores negativos e vetores positivos. Dualidade. Há um esqueleto milenar que nos remete a isso. A conclusão não poderia ser diferente. Mas a pergunta persiste: é isso? O problema é que pensamos apenas o mensageiro, não a mensagem. A mensagem é significado, o mensageiro significante. O mensageiro é a projeção da mensagem. É o caminho que a mensagem encontrou para chegar ao destinatário. Mas a mensagem não está no mensageiro. Ela vêm com o mensageiro. Vir é diferente de estar. O ser humano é devir. É aquele que há de vir. A mensagem há de vir com o mensageiro. Mas é sempre o mensageiro que fala a mensagem, seja através do seu trajeto ou das suas mãos.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Desintitulado nº 26.

Os relógios não medem o tempo. Um relógio mede outro relógio. O tempo não pode ser destrinchado em um laboratório. O tempo é como uma paisagem que se estende às nossas costas e a nossa frente. Por ele andamos, pedaço a pedaço. Mesmo assim, isso é falar de espaço. Não falar de tempo. O tempo é aquela sensação que temos quando percebemos que ontem éramos alguém que hoje não reconhecemos no espelho. O tempo está nas células mortas. O tempo está nos mortos. Mas ainda assim, nenhum diz o que é o tempo. Somos aqueles nos quais estamos nos transformando. Somos devir. Projeção. Projeto que movimenta o ar, o fogo. Mas não movimenta a si mesmo porque em si é o próprio movimento. Essa é a natureza do tempo: movimento. Coisas finitas, padrões infinitos. Caixa fechada a quem está no tempo e aberta a quem não está. Mas quem não está no tempo? Somente deuses não tem objetivos: porque não tem tempo. O tempo dos deuses é o devir. Mas um devir cuja impossibilidade de projetos é a única condição. Como a impossibilidade de projetos contraria o próprio fato das coisas serem finitas e dos padrões serem infinitos, isso quer dizer que os deuses são o próprio tempo. Mas não reconhecemos isso. Precisamos de personas, precisamos de máscaras. Então corporificamos o tempo. Daí relógios. Daí células mortas, altares. Mas um relógio mede outro relógio e uma célula morta somente pode ser identificada como tal quando em contato com uma célula viva. Tudo é comparação. Cria-se uma ópera do tempo. Cria-se o verniz das horas. Mas subterrânea, a realidade é indiferente. É, não está.